Em janeiro desse ano, tive o privilégio de começar a estagiar com a Karla em uma comunidade terapêutica, e desde então se iniciou essa jornada de infinitos conhecimentos sobre a adicção. No primeiro momento fiquei em dúvida de como seria assumir esse novo desafio, por onde começar, como entender mais sobre o assunto, como iria me aproximar e criar vínculo com os pacientes e como seria vista por não ser adicta, e nessa hora tive toda a paciência, compreensão e sabedoria da Karla para me ensinar e desenvolver em todo o processo.

Atualmente fazem quase três meses que eu estou vivendo essa experiência, e posso descrever como uma das mais surpreendentes e incríveis que já tive a oportunidade de desfrutar, todos os dias aprendo o quanto precisamos ter um olhar humano e cuidadoso para a dependência química, e como os indivíduos são repletos de histórias de vida que tem muito a agregar para o meu crescimento pessoal e profissional. Vivi e estou vivendo coisas muito marcantes no estágio, me lembro da primeira reunião que fiz e como foi importante para que eu conseguisse entender um pouco mais sobre esse mundo em que eu estava sendo inserida, pesquisei, estudei e entendi coisas que eu sequer imaginava sobre a adicção, me fez parar e refletir sobre como as vezes nos fechamos em uma bolha cheia de preconceitos e definições rasas de senso comum que sempre nos foram passadas, me fez ter interesse pelo diferente, pelo novo, desenvolver afeto, e vontade de ajudar na recuperação dos pacientes.

Fato engraçado:

Dentro disso tudo, uma das coisas que mais me marcaram foi quando em um dos meus primeiros atendimentos eu tive um paciente esquizofrênico e não sabia da condição dele, e de início tentei levar como um roteiro de “entrevista inicial”, eu fui com a ideia de que estava conversando com um dependente químico, como se devesse se resumir a isso e na hora nem cogitei a ideia de que ele poderia ter desenvolvido a patologia devido ao uso das drogas. Foi engraçado, porque no meio da sessão eu acho que a minha cara devia ser de um ponto de interrogação, e por dentro um misto de desespero interno e vontade de rir pela situação inusitada que estava acontecendo pela minha ingenuidade e pelo fato de ainda ser praticamente leiga na área. Foi um momento que me rendeu boas risadas, e uma forma de aprender na prática.

-Fato Emocionante

Outro fato que é muito importante pra mim, foi o primeiro paciente que eu realizei intervenção e tratamento. Lembro que na primeira sessão ele chegou tímido e nem me olhava enquanto conversava, tinha uma postura totalmente retraída e tinha vergonha de contar as coisas e talvez ser julgado, no final da nossa conversa ele já estava diferente e se mostrava muito mais solto para falar comigo. Depois de ouvir ele em algumas sessões, eu fiz a intervenção e confesso que foi um dos momentos mais emocionantes acompanhar a sua evolução no tratamento e ver ele conseguindo entender o próprio valor, entender o quanto ele tinha necessidade em se sentir amado e ter o reconhecimento da esposa, e focar de fato na sua recuperação. Foi uma das histórias que mais me emocionou e emociona, pois depois de 16 internações sem conseguir sair e ficar limpo tive o prazer de ver e fazer parte do seu atual processo de recuperação, e vi ele retornar para trabalhar comigo em uma das comunidades que faço estágio.
ATÉ A PRÓXIMA!!